quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Eram duas paisagens , contornos que se confundiam e marcavam suas diferenças. Eram, embora tão distintos, quase iguais. Passei tanto tempo a observá-los e mesmo sabendo que eram dois, sentia apenas um, sem início ou fim. Suas cores invadiam meus olhos e transformavam-se em uma só cor.
Algum tempo depois, de alguma forma que eu não sei dizer, não havia mais paisagem, não havia mais cor. Eu estava em qualquer lugar que não ali, podia ver todas as cores que não aquelas. Eu via você, que estava tão perto, de uma forma que, talvez, nunca estivera, de uma forma que nunca vai estar.
Havia o seu sorriso em cores que eu não conhecia. Suas mãos em toques que eu não sentia. Eu não estava ali, mas estava contigo e era sempre assim.
Cores e paisagens se reconstituiam frente aos meus olhos. Duas paisagens, agora perfeitamente distinguíveis. E eu, eu estava só.

domingo, 15 de agosto de 2010

Tenho tido umas tristezas tão tristes. Elas chegam e quando percebo já tomaram conta de cada espaçozinho em mim, já me tiraram as vontades e eu fico aqui. Passo os dias sem sair da cama vivendo um mundo que não é o meu, que eu nem sei se realmente existe. As vezes tenho a sensação que eu vou ficar assim pra sempre, que passarão um, dois, vinte anos... e essas tristezas continuarão chegando e indo.. e, de alguma forma, sempre ficando. Alguma coisa sempre fica quando a tristeza vai. Eu não sei dizer o que é, mas é como se ela fosse... e eu ficasse um pouquinho mais triste. Como se cada tristezazinha que vem deixasse um pouco de si em mim. Como se eu fosse cada vez mais tristeza. Como se a tristeza roubasse um pedacinho de mim para preencher com um pedacinho dela, um pedacinho que nunca vai.
Acho que é uma forma de sempre saber de mim, uma forma de não me deixar aqui completamente sozinha ou de não me deixar esquecê-la, porque até pra ela deve ser duro ir embora. Eu não sei.. só tenho medo de um dia acordar e não me ver. De olhar no espelho e só haver tristeza, uma tristeza sem fim... com pedacinhos de todas as tristezinhas que ficaram. Nesse dia, aonde eu vou estar?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Os carros passavam ao longe, cortavam a ponte como formiguinhas. Quem serão aquelas pessoas? Como estarão vestidas e o que estariam pensando?
O avião rasgou o céu. Da onde viera? Quais lembranças trouxe e quais deixou? Tristeza, alívio.
E eu aqui, gigante a observá-los, tão pequena aos seus olhos - sem ao menos existir.
Eles não param de passar. Tantos sonhos e corações passam por ali e daqui nenhum sonho, nenhum coração.
Quem serão eles? Gostaria de saber para onde vão, como serão os seus dias, quais os planos que possuem. Gostaria de saber se são como eu, se sentem o que eu sinto, temem o que temo.
O professor fala ao fundo e eu não posso ouvi-lo. Cheguei a me esforçar algumas vezes, mas os sons daquela voz me chegam como um eco e eu não posso distingui-los. Eles não podem entrar.
Aqui, por outro lado, estão todos a gritar. Sei que não podem parar e os sons de suas vozes são tudo o que posso ouvir.
Para onde será que foram? Eu estou aqui e continuarei aqui a observá-los. Estou a me esperar.