sábado, 30 de outubro de 2010

Não fosse pelo medo, talvez pudesse falar das vontades, mas, ali, elas não existiam. O medo havia tomado cada espaço - até então ansioso pelas sensações que viriam com os novos vidas. Tudo ali era medo, de uma forma que, refletido em seus olhos, era o que podia ver. Dos gestos restaram os possíveis porquês; dos beijos, os fins; das ausências, o lado mais cruel e daquilo que se fazia presente, o pensamento aflito sobre cada gesto, beijo e ausência.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O texto que eu escrevi no meu blog com a Paula há um tempão atrás:

"Errei pela primeira vez quando me pediu a palavra amor, e eu neguei. Mentindo e blefando no jogo de não conceder poderes excessivos, quando o único jogo acertado seria não jogar: neguei e errei. Todo atento para não errar, errava cada vez mais."

O que vejo aflorar agora ainda não pude explicar. Se um dia o farei não me atrevo a dizer assim como quem finge domar sentimentos que não lhe pertencem - eu não, por não serem meus e nem ao menos seus.
Eu os escolhi e se agora me atormentam não poderia tentar domá-los. Tentativa ilusória e infantil a que vos falo.
Deixarei que transponham meus limites e se mostrem em cada gesto - o coração esmagado no peito salta aos olhos, tira os sentidos das mãos.
E que vai doer eu sei e não corro. Correria por cada estrada em mim construída junto aos passos que dei contigo. Correria destruindo-a e jogando os cacos sobre você. Não haveria mais chuva ou sol em nossa estrada. E ela não seria mais de ninguém.
Não o farei.
Estarei decidida e coberta de certezas pelo que nem sei.
Estarei aqui e ela não mais estará.
À nossa estrada, apenas e na verdade, novos passos.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

É uma falta que não acaba nunca, eu sei, parece clichê, mas é assim que as coisas são. Tem doído bastante não sentir aqueles gostos, aquele calor, não ouvir aquelas vozes e poder sorrir daquela forma - a vida mudou e tem sido difícil me reiventar. O tempo me tirou a mágia e ainda não pude encontrar nada com o que preencher tantos vazios. Cada espaço que encontro, novo, a cada dia, grita e dói como se precisasse, logo, estar completo. Eu busco a cada manhã, a cada noite, a cada copo, cigarro, sonho, mentira, completar esses vazios com qualquer coisa que possa calá-los. Qualquer presença que possa, ao menos, disfarçar o quanto doem.
O que sei, hoje, é que sempre voltam a doer.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Você passa tanto tanto tempo construindo algo e quando abre os olhos, cadê?
Sabe, eu ainda me lembro de quando nos conhecemos; já faz tempo, eu sei;e sinto como se nada mais fosse daquela forma. Como se nós, os nossos amigos, nossas vidas e pensamentos e medos e vontades e gostos não fossem mais os mesmos, ao mesmo tempo em que são um só. Não sei explicar de onde vem ou quando comecei a me sentir assim, mas, hoje, quando penso nisso, sinto pingar a primeira gota. Temo que essa gota preceda uma enxurrada, que não pare nunca nunca nunca mais se sangrar. Se acontecer, a gente morre e eu acabo morrendo também.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Eram duas paisagens , contornos que se confundiam e marcavam suas diferenças. Eram, embora tão distintos, quase iguais. Passei tanto tempo a observá-los e mesmo sabendo que eram dois, sentia apenas um, sem início ou fim. Suas cores invadiam meus olhos e transformavam-se em uma só cor.
Algum tempo depois, de alguma forma que eu não sei dizer, não havia mais paisagem, não havia mais cor. Eu estava em qualquer lugar que não ali, podia ver todas as cores que não aquelas. Eu via você, que estava tão perto, de uma forma que, talvez, nunca estivera, de uma forma que nunca vai estar.
Havia o seu sorriso em cores que eu não conhecia. Suas mãos em toques que eu não sentia. Eu não estava ali, mas estava contigo e era sempre assim.
Cores e paisagens se reconstituiam frente aos meus olhos. Duas paisagens, agora perfeitamente distinguíveis. E eu, eu estava só.

domingo, 15 de agosto de 2010

Tenho tido umas tristezas tão tristes. Elas chegam e quando percebo já tomaram conta de cada espaçozinho em mim, já me tiraram as vontades e eu fico aqui. Passo os dias sem sair da cama vivendo um mundo que não é o meu, que eu nem sei se realmente existe. As vezes tenho a sensação que eu vou ficar assim pra sempre, que passarão um, dois, vinte anos... e essas tristezas continuarão chegando e indo.. e, de alguma forma, sempre ficando. Alguma coisa sempre fica quando a tristeza vai. Eu não sei dizer o que é, mas é como se ela fosse... e eu ficasse um pouquinho mais triste. Como se cada tristezazinha que vem deixasse um pouco de si em mim. Como se eu fosse cada vez mais tristeza. Como se a tristeza roubasse um pedacinho de mim para preencher com um pedacinho dela, um pedacinho que nunca vai.
Acho que é uma forma de sempre saber de mim, uma forma de não me deixar aqui completamente sozinha ou de não me deixar esquecê-la, porque até pra ela deve ser duro ir embora. Eu não sei.. só tenho medo de um dia acordar e não me ver. De olhar no espelho e só haver tristeza, uma tristeza sem fim... com pedacinhos de todas as tristezinhas que ficaram. Nesse dia, aonde eu vou estar?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Os carros passavam ao longe, cortavam a ponte como formiguinhas. Quem serão aquelas pessoas? Como estarão vestidas e o que estariam pensando?
O avião rasgou o céu. Da onde viera? Quais lembranças trouxe e quais deixou? Tristeza, alívio.
E eu aqui, gigante a observá-los, tão pequena aos seus olhos - sem ao menos existir.
Eles não param de passar. Tantos sonhos e corações passam por ali e daqui nenhum sonho, nenhum coração.
Quem serão eles? Gostaria de saber para onde vão, como serão os seus dias, quais os planos que possuem. Gostaria de saber se são como eu, se sentem o que eu sinto, temem o que temo.
O professor fala ao fundo e eu não posso ouvi-lo. Cheguei a me esforçar algumas vezes, mas os sons daquela voz me chegam como um eco e eu não posso distingui-los. Eles não podem entrar.
Aqui, por outro lado, estão todos a gritar. Sei que não podem parar e os sons de suas vozes são tudo o que posso ouvir.
Para onde será que foram? Eu estou aqui e continuarei aqui a observá-los. Estou a me esperar.

domingo, 25 de julho de 2010

É difícil começar uma história pelo fim. Mas e quando o fim é exatamente o início da história? Foi no fim que tudo começou.
Os últimos dias passavam como anos. As horas arrastavam-se. Os minutos transformavam-se em horas, e depois os segundos, e depois cada instantezinho. Aquele não passar de horas a deixava angustiada. Viveu os dias buscando o que fazer, inventando o que sentir, ou simplesmente não fazendo nada e sentindo tudo. Fazendo tudo e não sentindo nada. Qualquer uma das formas quando lhe fossem necessárias. Quem sabe as duas.
Passou a acordar mais tarde. As horas de sono, ou talvez as horas na cama antes de dormir tornaram-se suas favoritas. Naqueles momentos podia pensar sem que a incomodassem. E como precisava pensar. Elaborava os planos mais mirabolantes, planejava seus dias, os próximos anos... como seria a sua vida dali pra frente. Dali para frente preferencialmente esquecendo a parte que compunha o “dali”.. Gostaria de lembrar-se da confusão dos últimos dias apenas como ponta pé inicial não sabia ainda para o que. Era certo que seria para algo.

sábado, 24 de julho de 2010

Era incrível como agora as coisas podiam fazer algum sentido. Meses atrás não dera importância as páginas daquele livro. Não ouvira a música antes de enviar. Hoje tudo podia fazer completo e perfeito sentido. E era perfeito. E era um inferno. De fato, as coisas levavam-na a acreditar nisso. Talvez tudo estivesse a caminhar, talvez ela estivesse louca.
As coisas aconteciam e nada acontecia. Ainda assim, passavam por ela e, sem poder acreditar, acreditava no que via. Talvez não visse nada, talvez fosse tudo o que precisava para seguir em frente. Ela nunca saberia.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Camaradinha lá de Itapoeiro do Norte olhou o céu e encontrou a lua. Lembrou de quem o esperava mas não pôde vê-la. Incrível como as nuvens estavam a prejudicá-lo aquela noite. Mais incrível ainda como a havia esquecido. Olhara o céu por outras noites e nada via. Haveria a lua fugido com tua menina tendo as nuvens como comparsa? Ou foi ele quem não podê percebê-la?
De certo naquele instante fazia planos para buscá-la. Luizinho possuía um daqueles que poderia chegar ao céu.
Ainda naquela noite ficaria a observá-la, caso as nuvens dessem trégua encontraria o seu olhar.
O camarada cochilou, acordou aos pulos. Será que perdera algo?
Segundo seguinte passou-lhe aos olhos como mágica o que sonhara. Não era um brilho como os outros. Brilho de estrela, nada disso. Era de menina.
Sabia que estava lá, tinha certeza! Recordava e lhe sucediam pensamentos do feitiço que lhe empuseram.
O feitiço - de fato ele - o distraiu e por isso não foi buscá-la. Agora iria, tinha até planos.
Ficou a olhar desde que o brilho sumira. Missão difícil distigui-lo dentre tantos outros brilhos que insistiam em enganá-lo. Seria um novo feitiço? Ou ainda era ele quem não notara? Sera que ela estava ali?
De tantos brilhos iguais um lhe parecera diferente. Sorriu sem certeza.
Não era ela, mas brilhava. Brilhava quase como ela, tanto quanto ela. E podia lhe ver.
Era estrela e não menina, mas enquanto a olhava, lá estava todas as noites a lhe olhar. E isso bastava.

sábado, 17 de julho de 2010

poesia

Veneno em noites quentes
Da brisa fria em faces vis
Adormece o coração latente
Nos sonhos, hoje, não mais gentis

Luziu o dia ao amanhacer
claridade dúbia e seu ardor
No coração luz sem amor
Não mais queimou e pôs-se a sofrer

Se ilumunina sem queimar
Pôde a escuridão calor provocar
Se o frio por fim queimou
tirou-me a luz que o provocou

Se nada vejo, sinto calor
Dos olhos fogem o que temi
os abro hoje, mitigo a dor
Nada mais frio ou indolor

sexta-feira, 9 de julho de 2010

sempre estar lá

Voltei e tocava "O Astronauta de Mármore no rádio". Lembrei, sem querer, do tempo em que essa música podia descrever perfeitamente o que se passava dentro de mim. Tempo dos quais mal posso me lembrar; mais ainda, aqueles tempos se tornaram um grande parêntese, e as lembranças - poucas, distocidas, fragmentas - parecem parte de uma outra vida, de um outro alguém. Não guardo fotos, as capas de caderno estão no lixo e tento esconder as marcas. Do (pouco) que me restou, cicatrizes maiores e mais profundas do que as que impressionam; histórias de bar em bar, trazidas com toques de comédia que lhes permitem serem contadas; algumas noites, talvez, em que a loucura revive possibilidades que, eu sei, não ousaria desejar.
De tudo o que eu escrevi, precisei reescrever.

"Desculpe, estranho.
Eu voltei mais puro do céu."

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Caio Fernando Abreu

"Tinha desejos violentos, pequenas gulas, urgências perigosas, enternecimentos melados, ódios virulentos, tesões insaciáveis. Ouvia canções lamentosas, bebia para despertar fantasmas distraídos, relia ou escrevia cartas apaixonadas, transbordantes de rosas e abismos. Exausta então, afogava-se num sono por vezes sem sonhos."

terça-feira, 1 de junho de 2010

- compassos -

Afastaria-te com um gesto brusco para que você desistisse de tudo o que te fiz acreditar.
Poderia perdê-la nesse gesto repentino para que eu não a sentisse ir.
Me dói imaginar nossos passos seguindo por outros compassos porque hoje não sei caminhar sem ti.

Sem ti.
Senti.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

- nas mesmas noites -

Doido é pensar naquilo que ontem fora seu e hoje não o é.
Vê-la em outros braços, nas mesmas noites por outros afagos.
Palavras repetiras em mentiras consentidas..

(...)

Amanhã ou depois,
serão perdidas.

domingo, 23 de maio de 2010

- dizem os poetas -

Dizem que os poetas costumam morrer de amor todas as manhãs, renascem à tarde, e apaixonam-se novamente sob a luz da lua.
Que poetas possuem a noite, sugam-na e ao seu fim morrem sedentos por desejá-la ainda mais.
Vivem para novamente tê-la, morrem por não suportar perdê-la e ainda assim, ela se vai. Morrer é o seu preço áqueles cujo apreço não pôde comedir.

E nem pudera.

sábado, 22 de maio de 2010

- somente ela -

Sempre que estava ali procurava seus passos. Incrível como aquela atmosfera - e somente ela - podia lembrá-los. Eu pensava em ver-te cruzar o meu caminho, passando os seus olhos nos meus e sorrindo - todas as vezes que imaginei essa cena você sorria. Eu estava perto de você. Sentia um quase seu cheiro, um quase seus traços. Imaginava-a fazendo aqueles caminhos e era como se eles a possuíssem. Traziam o seu gosto, os seus moldes. Eu podia imaginar o que o tempo mudou, o que seria exatamente igual. Gostaria de saber o que sentiria ao me ver. Pensava em algum convite, um almoço ou jantar. Algumas vezes nos beijávamos e eu temia o dia seguinte. Nunca soube ao certo o que fiz da minha paixão por você. Não soube o que ela fez de mim. Eu havia te esquecido, não como os amantes esquecem uma paixão, com grandes dores e traumas - simplesmente havia passado, se esvaecido. Os tempos doloridos foram, na verdade, aqueles em que mais te amei.
Eu sabía unicamente que nunca pude deixar de lembrar-te, seja aos sábados, seja ali. Tinha você perto de mim em estilhaços do que fomos nós. Esperava o destino e não queria nada além disso.